segunda-feira, 21 de julho de 2014

Eleição é Guerra

Eleição é Guerra

Estou usando o título “Eleição é Guerra” de forma “emprestada” de um livro do Carlos Augusto Manhanelli escrito no início da década de 90 em que ele trata de forma bem didática e simples o assunto Marketing Político. O autor de “Eleição é Guerra”, em 1992, logo no primeiro capítulo, recorreu ao livro “Da Guerra” de Carlos Von Clausewitz e fez associações diretas, trocando apenas alguns termos. Pretendo aqui fazer algumas associações que não necessariamente estão de acordo com o ponto de vista do Manhanelli.

Basta ser um pouco atento para entender que de fato as campanhas eleitorais se transformam numa completa guerra, principalmente no campo das informações. A própria Dilma Rousseff, em discurso no ano de 2013, afirmou que pode “fazer o diabo” em eleições. E de fato é assim... Planta-se notícias, faz-se uso de artilharia (propaganda) e da infantaria (militância) para derrotar o adversário, tenta prever as atitudes do adversário, protege-se em trincheiras, elabora ataques estratégicos de acordo com o seu posicionamento, faz-se alianças, usa-se o poder judiciário para ocupar tempo do adversário, faz uso da espionagem e infiltração para coletar informações, usa-se da intimidação, além de fazer uso de ferramentas (muitas vezes não muito limpas como atitudes similares ao terror) para encurralar o oponente. O lema “sempre alerta” também é extremamente necessário, visto que não se pode derrapar e os ataques podem vir de onde menos se espera. É preciso maior atenção em suas vulnerabilidades (pontos fracos) e um ataque equivocado pode custar muito caro, dando inclusive mais força ao adversário.

O trabalho estratégico (baseado em planejamento e as informações que as pesquisas passam) para a elaboração tática é de fundamental importância, por isso é de extrema necessidade ter um “setor de inteligência” para acompanhar (espionar e se infiltrar?) todo o andamento da guerra eleitoral.

Como pode ser visto, campanhas eleitorais e guerra tem diversas associações diretas (diria até mais do que com o próprio Marketing). Como pretendo dissecar algumas ações daqui até o final das campanhas eleitorais, decidi fazer essa postagem mais geral. Muito do que falarei daqui pra frente vai estar diretamente ligado a este post.

Eleições vs Guerra

Para finalizar o post, retomo as alguns pontos que o Carlos Augusto Manhanelli apresentou no seu livro “Eleição é Guerra” como ditos no livro “Da Guerra” do autor Carlos Von Clausewitz. Apresento, junto com associações e pontos de vista meus e exemplos dos dias atuais.

01) “Cada um tenta, por meio de sua força física, submeter o outro a sua vontade; o seu objetivo é abater o adversário a fim de torna-lo incapaz de toda e qualquer resistência.”

Esta afirmação do Clausewitz pode ser associada diretamente a duas vertentes: A militância (talvez até o eleitor) e as alianças partidárias. Através da intimidação, usando o medo, tenta-se persuadir os outros mostrando que é mais forte e que é de extrema importância estar do seu lado, dando a entender que ele é mais forte e que se ganhar os que estiverem do lado do então oponente não vai ter as mesmas vantagens. Isso passeia também pelo campo dos ataques morais, colocando rótulos esdrúxulos nos militantes e eleitores do oponente, desqualificando as ações e argumentações previamente, além de intimidar os partidos de outras alianças com ataques sistemáticos.

Quer exemplos? As vaias a Dilma Rousseff nos estádios foram ridicularizadas apresentando como motivo o fato de serem de uma “elite branca” e, em outros locais, associavam essa “elite branca” à eleitores e militantes do PSDB. Jornalistas que por ventura possam apoiar o PSDB, são esculachados e acusados de estarem recebendo dinheiro para isso, além de receberem ataques no campo moral. Políticos de outros partidos que não estão diretamente ligados à partidos aliados são tratados como inimigos mortais e têm suas vidas pessoais vasculhadas. Partidos que não apoiarem sua candidatura sofrem retaliações enquanto os aliados recebem afagos. Esses são só alguns exemplos.

02) “[...] julgar que existe uma maneira artificial de desarmar e derrotar o adversário sem verter demasiado sangue [...] é um erro que é preciso eliminar. Num assunto tão perigoso quanto a guerra, os erros devido à bondade da alma humana são precisamente a pior das coisas.”

Mais claro impossível! Só é você reparar o nível dos ataques diretos que uns candidatos fazem com os outros, tentando detonar totalmente a reputação dos adversários. O erro de pensar que “se eu não me rebaixar ao nível dele” fez o PSDB perder as três últimas eleições pois enquanto o PT atacava os tucanos de forma sistemática e suja, o PSDB ficava com um “ar de superior” pensando que “não se rebaixar ao nível deles” iria conseguir alguma coisa. O mesmo vale para a militância.

03) “Para que o adversário se submeta à nossa vontade, é preciso coloca-lo numa situação mais desfavorável o que o sacrifício que lhe exigimos. Todavia, a desvantagem da sua situação não deve naturalmente ser transitória ou, pelo menos, aparentar sê-lo; caso contrário, o adversário esperaria um momento mais favorável e não cederia [...], é necessário desarmá-lo realmente ou coloca-lo em condições tais que ele se sinta ameaçado por esta probabilidade.”

Isso vale tanto para o candidato adversário quanto para militância (ou eleitores) adversários. Aqui entra o “Assassinato de Reputações” (título do livro do Romeu Tuma Júnior) tanto dos adversários políticos, quanto dos militantes e eleitores, entrando nesse saco também outros que estejam contra o candidato, mesmo que não necessariamente esteja apoiando o oponente.

Podemos tomar como exemplo o que tentaram fazer com o Marco Feliciano, o que tentam sistematicamente fazer com o Jair Bolsonaro, o que estão fazendo com a Rachel Sheherazade (que não declara apoio a ninguém, mas critica o atual governo), o que muitos tentaram fazer com a Denise Abreu quando era pré-candidata... Em termos partidários, aqui entra as sanções e bloqueios de verbas para partidos dos oponentes que estão em exercício do governo (ou prefeitura), destituição de cargos, demissão de estatais (como o caso da demissão do vice presidente da Caixa Econômica). Como intimidação do eleitor, trago aqui uma situação ABSURDA que ocorreu nas eleições para a prefeitura de Salvador em 2012. Militantes do PT faziam uma algazarra (inclusive com xingamentos diretos) diante de eleitores que, pelo menos aparentemente, iam votar no candidato do DEM. Digo isso pois EU MESMO (ninguém me contou, eu senti isso na pele) sofri isso quando saí para votar. O mesmo aconteceu com diversos conhecidos meus, inclusive parentes bem próximos.

04) “Cada uma das partes esforçar-se-á para prever a ação da outra, tirando suas conclusões do caráter, das instituições, da situação e das condições em que se encontra, e adaptará sua própria ação a essas condições...”

Aqui o campo é bem estratégico, então é difícil trazer exemplos concretos e irrefutáveis, visto que ninguém abre suas estratégias, correto? Mas é fato que deve-se estar atento aos movimentos do adversário, tentar descobrir as fragilidades deles (e cobrir as suas pois ele pode descobrir e te atacar nesse ponto), prever reações (e aí entra a decisão se deve ou não responder às provocações e, caso responda, de qual forma, pois a sua resposta pode estar prevista pelo adversário), através de pesquisas tentar prever se o oponente vai partir pro ataque ou vai ficar recuado, decidi se mantem a defensiva ou parte para o ataque, etc etc etc...

Como exemplo, posso trazer uma suposição. O PT sempre reagiu aos ataques sofridos, mas começou a ser mais agressivo quando os ataques começaram refletir nas pesquisas de intenção de voto. Quando a Dilma começou a cair (não necessariamente em números), o PT começou a ser mais agressivo nas respostas e ataques (o que me leva a crer que as pesquisas quase “estáticas” tem erro, pois a resposta do PT não condiz com a “estabilidade” da Dilma nas intenções de voto).

Enfim, esse texto servirá como base para diversos outros que irei fazer daqui até pelo menos as eleições do segundo turno.





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