quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Guerrilha Urbana Eleitoral


Em todas as eleições sempre há a presença de “ações não convencionais”, digamos que “não oficiais”, que têm o objetivo de minar a força do adversário político através da informalidade. Neste ano de 2014, embora não seja novidade no cenário das eleições no Brasil, as ações de Guerrilha Urbana Eleitoral estão bastante fortes, pois o combate oficial está bastante acirrado (equilibrado) e ambos os lados estão querendo ganhar a qualquer custo.

Uso o termo “guerrilha urbana eleitoral” para manter a mesma analogia com estratégias militares que foram feitas no post “Eleição é Guerra”.

Guerrilha é segundo o Dicionário Aurélio:

“Luta armada realizada por meio de pequenos grupos constituídos irregularmente, sem obediência às normas estabelecidas nas convenções internacionais, e que, com extrema mobilidade e grande capacidade de atacar de surpresa, visa ao crescimento progressivo das próprias forças mediante a incorporação de novos combatentes e abertura de novas frentes guerrilheiras até que se possam travar com êxito combates diretos contra as tropas regulares inimigas”.

Guerrilha Urbana é tudo isso adaptado para vias urbanas e, obviamente, Guerrilha Urbana Eleitoral são todas as técnicas adaptadas para o processo eleitoral.

Vale ressaltar que a Guerrilha Urbana Eleitoral é completamente diferente do que nós, profissionais ligados a área de marketing, entendemos como “Marketing de Guerrilha” e muito diferente também do que conhecemos como “Marketing de Emboscada”. O primeiro é bastante conhecido e cada vez mais comum, principalmente nesta era do “Marketing Promocional”. O segundo já não é muito bem visto e, só para dar um exemplo, é o que ocorre bastante durante a Copa do Mundo e que a Fifa tenta impedir.

Cito abaixo dois exemplos um de Marketing de Guerrilha e um de Marketing de Emboscada dentro do processo eleitoral.

MARKETING DE GUERRILHA ELEITORAL (exemplo)

Fazer uma intervenção no centro da cidade colocando pessoas assobiando ou cantando o jingle do candidato. Pessoas que aparentemente não teriam ligação alguma, espalhadas, como se tivessem simplesmente de passagem. Poderia colocar também uma quantidade significativa de pessoas aparentemente sem relação alguma usando camisas diferentes com foto e número do candidato.

Isso passaria a sensação que as pessoas estão aderindo ao discurso do candidato e chamaria a atenção para o público atingido prestar mais atenção ao discurso do candidato através dos debates, das propagandas e dos programas eleitorais.

MARKETING DE EMBOSCADA ELEITORAL (exemplo)

Próximo a (ou até mesmo dentro de) um comício, carreata ou passeata do adversário, colocar pessoas para agirem de forma discreta com material de campanha do candidato. A ação precisa parecer “natural” e não uma intervenção de fato.

Claro que esse tipo de ação, em termos eleitorais, é bastante arriscado para a sua integridade física, pois trata-se de uma provocação. Num cenário eleitoral, principalmente muito disputado e com os ânimos bem acirrados, isso poderá (e provavelmente vai) gerar resposta violenta em cima das pessoas que estiverem armando a emboscada.

NOTE!

Note que tanto o Marketing de Guerrilha Eleitoral quanto o Marketing de Emboscada Eleitoral não fazem uso da intimidação, da depredação, da INTERVENÇÃO DIRETA NO MATERIAL OU MILITÂNCIA do adversário. Poderíamos dizer até que são “intervenções limpas”, talvez subliminares, mas intervenções limpas.

GUERRILHA URBANA ELEITORAL

A guerrilha, por definição, lida com o uso da força (física e psicológica) para TENTAR IMPOR ao próximo a adesão da sua causa. A guerrilha acaba entrando na esfera da exigência, da intimidação, da revolta e do medo. Faz uso de meios fora do campo do diálogo, do racional. O uso da verdade, inclusive, não é necessário, pois a importância maior é que atendam as suas expectativas a qualquer custo. Fazem uso sistemático de “meios de pressão”. Não atoa, UMA DAS ARMAS DA GUERRILHA É EXATAMENTE O TERROR.

“Se você não faz o que eu quero, vou exigir por meio da força até que você abrace a minha causa.”

Pode-se fazer, tomada as devidas proporções, paralelos com os movimentos radicais do mundo (alguns até com certo caráter social): FARC, ERP, Al Qaeda, Estado Islâmico, os separatistas na Ucrânia, os paramilitares chavistas da Venezuela, o MST, o MTST, o Black Blocs, etc...

São inúmeras as armas da Guerrilha Urbana Eleitoral, assim como qualquer guerrilha. Vale qualquer coisa que possa pressionar o seu alvo para fazer o que você quer. Neste cenário, resolvi listar apenas alguns exemplos que estou vendo nesse segundo turno das eleições de 2014.

01) Uso de cartazes e panfletos “amadores”

Sabe aquele tipo de cartaz, em papel ofício impresso em casa? É mais ou menos isso. Só que o conteúdo do material está voltado para espalhar boatos, mentiras, algumas meias verdades, mensagens de intimidação... Pouco importa a veracidade do que é veiculado, pois o objetivo é gerar uma resposta “negativa” em relação ao adversário político, é confundir o eleitor, pô-lo em dúvida, é “queimar” a imagem do adversário ou fazer o eleitor ter receio de manifestar sua opinião seja por vergonha ou por medo.

Esse tipo de material é colocado ou distribuído, normalmente, em pontos de ônibus, postes, universidades, portas de escolas, praças de grande circulação e não há uma identificação clara se o material distribuído é atestado pela equipe do candidato ou não. Ou seja, o emissor normalmente é um anônimo, mas trabalha em favor do candidato.

02) Retirada ou depredação do material de campanha

Recolher material de campanha do adversário político durante as campanhas eleitorais, infelizmente, é muito mais comum do que se pensa. O mesmo vale para a depredação.

Esse tipo de ação tem como objetivo (e consequência) a diminuição ou até mesmo a extinção da visibilidade do adversário nas campanhas de rua. Quando ocorre a depredação, tem-se ainda a sensação de “rejeição”, ou seja, pior do que a ocultação.

No segundo turno, quando se há apenas duas opções para escolher, há ainda a sobreposição de material de campanha (colar adesivo em cima do material de campanha do adversário, por exemplo). Essa atitude pode gerar um efeito contrário de rejeição devido a falta de respeito, mas essa rejeição acaba sendo muito pequena em relação ao dano causa.

03) Intimidação de eleitores do adversário

Essa talvez seja a mais grave de todas as “armas” da Guerrilha Urbana Eleitoral. Ameaçar, intimidar, xingar, agredir fisicamente (sim, isso ocorre e já aconteceu este ano com mais de uma pessoa conhecida minha em Salvador-BA e em 2012 parente meu foi intimidado quando saía de casa para votar e amigo meu sofreu agressão física próximo ao local de votação), depredar propriedade do eleitor (riscar carro, encher o carro de adesivos, quebrar vidro do carro, pichar muro, etc...), tomar material de campanha a força (mandar tirar camisa, rasgar roupa, etc...)... Enfim... Toda forma de intimidação possível e inimaginável.

Essas ações têm como objetivo deixar o eleitor do adversário com medo, apreensivo até sair para votar se este não estiver convicto do seu voto. O eleitor do adversário terá medo de manifestar seu apoio com medo de alguma retaliação, alguma perda de bem ou até agressão física. Essas ações são mais fortes nos dias de votação ou poucos dias antes. Inclusive, o uso de boatos de agressão, de assaltos, brigas de militantes, etc..., não são raros nas redes sociais. Mas, pior é quando isso não é um boato, mas sim um fato.

TERRORISMO ELEITORAL

Nestas eleições de 2014 tem-se falado bastante do “Terrorismo Eleitoral” que um partido político está realizando. Como disse anteriormente, o “Terrorismo” é uma das inúmeras armas da Guerrilha. Antes, neste post, eu estava tratando mais da “Guerrilha Urbana Eleitoral”, ou seja, procurei dar ênfase - não exclusividade - nas ações físicas de rua. Todas as ações descritas anteriormente podem ter pontos que se enquadram no “Terrorismo Eleitoral”, principalmente a última citada.

A definição de “Terrorismo”, tirada da Wikipédia, é a seguinte:

“Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas de esquerda e direita, grupos separatistas e até por governos no poder.”

Obviamente, anexando o termo “Eleitoral” as ações são adaptadas para esta finalidade.

A arma “Terrorismo” é utilizada para alcançar o objetivo através da PRESSÃO usando o artifício do medo que é um dos sentimentos mais primitivos do ser humano, que o faz, inclusive, perder a razão. A emoção toma conta e “bloqueia” as ações que possam trazer alguma mudança, visto que a “não ação” é exatamente a continuidade. A pessoa com medo tende a ficar estática.

Eleitoralmente falando, incutindo o medo a pessoa tende a manter a atual situação, mesmo que ela deseje alguma mudança. É exatamente por isso que o PT está atacando através do “medo”, pois o sentimento de mudança da população é bastante forte e o principal mote de campanha de Aécio Neves é “Mudança”. Foi por isso também que em 2002 o PSDB usou o mote “medo” em cima do Lula, embora não tenha sido com tanta veemência e sujeira como está sendo feito este ano.

São inúmeras as formas de disseminar o medo (além das já citadas). Particularmente neste ano de 2014 o medo está sendo disseminado através das propagandas políticas (inclusive começaram bem cedo, antes das campanhas eleitorais), através do celular usando as mensagens de texto SMS e o aplicativo WhatsApp, através de boatos espalhados nas redes sociais, através de telefonemas, através de discursos em comícios e através de militantes usando o “boca-a-boca”.

O ser humano em si tem aversão à perda, tem medo de perder. É inegável que nesses doze anos de governo do PT muitos que não tinham nada, hoje em dia têm alguma coisa (a “validade” dos métodos não vem ao caso agora) e perder para voltar à miséria é de gerar pânico nestas pessoas. Reparem que não estou falando de ataques à honra e à moral do adversário, estou falando de ataques ao psicológico do cidadão, ou seja, à transformação de quem precisa e tem alguma dependência em ESCRAVO. É fazer uso da necessidade alheia para escravização e é exatamente por isso que não dão uma “porta de saída”, um meio da pessoa poder sair de tal situação... É colocar na pessoa grilhões com uma bola de chumbo pesadíssima que a impeça de realizar qualquer movimento de forma independente.

O terrorismo faz uso de pessoas que nada tem a ver com a situação para atingir os inimigos, o terrorismo eleitoral faz uso de pessoas inocentes e com certo grau de dependência (física e/ou psicológica) e ingenuidade para atingir o adversário político. Em ambos os casos, a pressão através do medo bloqueando o poder de ação.

Agora, cabe uma observação... Disse anteriormente que o medo bloqueia a ação, mas ele pode também chamar a pessoa a agir contra o alvo e não contra quem de fato está fazendo o uso do terror. É uma completa inversão dos sentidos.




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